ade Sepulchral Voice Fanzine: Entrevista: OLIGARQUIA Entrevista: OLIGARQUIA - Sepulchral Voice Fanzine

News

19 de dez. de 2014

Entrevista: OLIGARQUIA



A OLIGARQUIA foi formado em 1992 por Panda Reis e Alex Chivitti, mas desde o início sofrendo inúmeros problemas com troca de formação chegaram a fazer alguns shows como dupla, mas jamais se rendendo ao enorme modismo que o país enfrentava naquele período.
O primeiro material da banda, uma Demo Tape, saiu em 1995, intitulada ‘Conviction of the Death’, e serviu para colocar o nome da banda no underground nacional e internacional, com a participação da banda em várias coletâneas no Brasil e em todo o mundo. Em 1999 foi lançada a segunda Demo Tape, ‘Really to be Dead’, que recebeu uma produção melhor e mais cuidados na parte gráfica, com a arte, uma escultura de bronze, feita exclusivamente para esse material, que chegou a ter distribuídas 2mil cópias. Tal feito chamou atenção da gravadora Destroyer Records, que assinou contrato com a banda para o lançamento do debut 'Nechropolis', lançado em 2001, levando a banda para uma extensa turnê pelo Brasil, além de excelentes críticas recebidas pelo público e mídia especializada. Em 2003 lançam 'Humanavirus', gerando nova turnê para a banda, que se iniciou mesmo antes do lançamento do álbum, em setembro, terminando 2 anos depois, em dezembro de 2005. Nesse meio tempo foi lançado na Europa, em janeiro de 2004, o Split MCD 'Enslave by Light', que não teve distribuição no Brasil, sendo uma raridade por aqui. O terceiro full-length ‘Distilling Hatred’ foi lançado oficialmente em julho de 2011.
Confira uma rápida conversa com o baterista Panda Reis, a line-up se completa com Artur Queiroz(Bass), Guilherme Sorbello (Guitar / Vocals) e Victor Pancho(Guitar / Vocals).

Entrevista elaborada por Daniel Sanchez


Panda, em primeiro lugar é uma enorme satisfação pode conversar com você sobre a Oligarquia, pra começar me conte um pouco como tudo começou.
Panda Reis – Valeu por me chamar pra esse bate papo, é sempre um prazer participar de manifestações realmente underground. Porra cara, já faz uns anos que tudo começou, na verdade nem eu sei ao certo quando tudo realmente começou, pois somos uma banda que aprendemos a tocar sozinhos, e esse processo foi longo, pois eu queria tocar baixo, até comecei no baixo, mas eu era muito ruim, e logo fui “jogado” pra bateria. Mas eu sempre tento datar o início da banda, mas isso não é fácil, pois até o primeiro show da banda, varias coisas aconteceram, gente entrou e saiu... ai pra facilitar as coisas, falo em 22 anos (primeiro show da banda foi em 1992), mas sabemos que a banda já pré-existia uns dois anos antes ou mais. 
Era eu e o Cleyton Ishini que tivemos a idéia de montar uma banda, e o processo foi longo, primeiro compramos uma guitarra (Gianinni), ambos tentamos aprender e nenhum dos dois conseguiram... ai percebemos que era necessário ter um guitarrista que soubesse tocar mesmo, o foda é que nossa noção de tocar era muito limitada, ai apareceu o Alex Chiovitti, que por ter uma guitarra vermelha entrou na banda (porra, Jesse Pintado tocava uma guitarra vermelha, qualquer um que tivesse uma porra de uma guitarra vermelha só podia tocar bem!!! hahahahahahaha.. nos enganos...rsrs), e aprendemos todos juntos. Daí o resto é muita história pra contar aqui ...

Me fale um pouco sobre você também, suas atividades e em como você se tornou baterista.
Panda Reis – Sou um afrodescendente, com quase 42 anos de idade, minha mente é um mosaico estranho e perturbadamente revoltosa, quase tudo feito pelos Sapiens Sapiens me incomoda de uma maneira que não incomoda 98% das pessoas, talvez esse seja um dos motivos para eu descontar todo meu ódio e raiva nas peles da bateria. Eu gosto muito de escrever, acredito que até mais do que fazer musica, como os caras dizem, eu sou o nerd mais maloqueiro do mundo, adoro estudar, ler... mas nem tudo, tem coisas que não leio, que não consigo mesmo... então fui fazer história e me formei como historiador, mas não parei por ai, continue estudando e ainda estou estudando, em 2015 estarei estudando Antropologia e depois parto pra uma especialização em História da África. Ainda acho um tempo pra jogar futebol, minha outra paixão, já esta na hora de parar com o futebol, o corpo pede pra parar, mas eu não consigo cara!!! rsrsrs 
Agora como eu disse, “me tornaram” um baterista, tanto é que até hoje eu me esforço pra aprender a tocar, me fodo pra acompanhar os caras da banda , que tocam muito, eu diria que enganei bem nesses quase 25 anos de banda !!! rs

Sei que você tem uma forte militância em causas sócias, como é expressar isso no meio death metal fugindo bastante dos clichês do estilo?

Panda Reis – Eu não sou um músico, sou um revolucionário, sou das ruas mesmo, não falo da minha poltrona, não fico no Facebook sendo radical e sendo apenas um pacifista de merda nas ruas, me formei nessa atmosfera de protesto e luta cara, eu sou um militante antes mesmo se der um baterista eu já corria da polícia e dos cassetete na Praça Ramos, Praça da Sé, me lembro que tentei arrastar todos na banda, no começo, me lembro que uma vez, antes de 1992, consegui levar todos os caras da banda em um comício na praça da Sé, e o coro comeu feio com a PM, me lembro que nos dispersamos só nos encontramos no dia seguinte, acho que isso traumatizou os caras (da época) que se afastaram em definitivo das questões sociais e políticas, o Alex me criticava demais por causa da minha postura, por causa das letras, cara, você não imagina, mas tínhamos algumas tretas por causa de letras, rolou boicote da parte dele, até corte de partes antes de mandar pra fábrica, ou seja, fomos censurados por nós mesmos!!! Eu até entendo a visão dele cara, ele era um banger totalmente a par da política e em certo momento a minha postura política incomodou ele demais... 
Ai quem entra na banda ?? Artur ... rsrs um comunista ferrenho e radical , ai eu tinha um aliado para minha subversão...rsrs
Expressar isso na banda, eu diria que a priori são com as letras mesmo, mas a gente faz shows beneficientes e temos um projeto social para bandas das periferias , tipo essas bandas da galera fudida de grana mesmo, mas que tem banda , quer tocar , tenha a chance de entrar em um estúdio pra gravar seu trampo com condições honestas , em breve isso sai do papel , já temos o parceiro (estúdio). Mas dentro do estilo a gente fica meio engessado, pois tudo nessa porra de cena é dinheiro , contato e trocas de favores ... e até hoje poucos headbangers se interessam com política e muitos dos que começam a se interessar ou finge se interessar, vem se mostrando fascistões de corpo e alma !!! Meu parceiro ... tenho visto cada manifestações em favor de uma política de direita , alguns até extrema direita , que sinceramente parceiro , me fez desacreditar em muita gente graúda ai do underground nacional , ta cheio de idiota fascista , preconceituoso , ignorante ... foda que tem muito moleque que tem atitudes extremamente de direita e não consegue se perceber como tal. A galera tinha que perceber que política esta tudo, esta no metal também, não tem como se dizer apolítico , se , se diz assim , me desculpa , você é um idiota que aceita a exploração sócio/econômico sem nem mesmo saber o que é ... rs

Oligarquia recentemente tem feitos apresentações com outro baixista, Curiosamente chamado Artur tbm, e até mesmo show com os dois baixistas tocando juntos ao vivo, Como está sendo a experiência de contar com dois baixistas na banda?
Panda Reis – Sempre foi algo que eu tinha em mente cara, eu adoro o som do baixo , em todos os nossos outros trampos, eu sempre fazia questão que o baixo estivesse na mesma altura que as guitarras ! A idéia de dois baixistas é antiga, mas sempre foi muito difícil achar essa raça rsrs , imagina achar dois !!! rsrs O Anão (Artur) toca comigo em outros projetos , como o Heresia 666 entre outras coisas (fora do metal), quando o Artour teve que se afastar por causa de uma fratura na mão, fizemos o convite pro Anão segurar os shows que tínhamos agendados, ele aceitou na hora e fez um ótimo trabalho. No palco percebi que o estilo dele era muito diferente do Artour , e comecei a pensar na junção dos dois juntos , ao mesmo tempo... daí pra acontecer foi um dois ... 
Queremos fazer mais shows com dois baixos, mas não é muito fácil juntar todos , ter a estrutura necessária , vamos ver se em 2015 a gente consegue fazer ao menos a metade dos shows com os dois ... mas não paro de pensar merda mano !!! Estou planejando musicas com duas baterias, dois baixos e duas guitarras !!!! Mas ai é algo mais complexo que me tomaria muito tempo .... rs

Já pensaram em fazer um disco em português? (Risos)
Panda Reis – Não.

Panda em todos esses anos de estrada com o Oligarquia, o que você acredita que, como músico, tenha afetado a sua forma de ver a vida?
Panda Reis – A banda , a cena , a estrada o underground e a música em nada afetou a minha vida. Mas a minha vida, essa sim, a minha vida, sobrevivida, (e vivo ou sobrevivo), isso sim afetou a banda e nossa música.
Nós (Oligarquia) que fazemos à música e não ela que nós faz.

Como você vê hoje nosso cenário underground? Acja que houve alguma evolução?
Panda Reis – Underground brasileiro .... lembro-me de quando entrei nessa, me recordo da fascinação que tinha por bandas e pessoas que estavam criando a nossa história, me lembro dos shows de norte a sul da cidade de SP, me lembro de quando a banda nasceu e da sensação indescritível do primeiro show, de entrar no circuito, me lembro perfeitamente os caminhos abertos no peito e na cara dura , sem máscaras, me lembro dos pré-conceitos que sofri, sim mano ... sofri preconceito por ser negro no meio de maioria branca, sim tem sim !!! Vocês podem falar que não tem não , podem citar Mystiifier , Suffocation ... mas volta pra terra porra !!!! Até os menos racistas são racistas ... mas beleza ... o assunto nem é esse , já escrevi sobre isso em um artigo esse ano , o que quero concluir que depois de 25 anos no underground as coisas mudaram sim ,mas não sei dizer se pra melhor ou pra pior , não é reclamação de porra nenhuma, pois só chora quem quer eu nunca quis o que a cena podia me oferecer, então eu me sinto na posição de poder olhar a cena e falar dela sim , das partes ruins e boas, pois nunca desejei viver dessa merda, nunca aceitei as panelas (e foram inúmeras durante esses anos) , nunca aceitei a maneira que as revistas especializadas tratam à cena, nunca concordei com a postura e maneira de trabalho das gravadoras , nem as que participamos , os produtores , grande maioria que trabalhou com a gente merecem mais que respeito, pois cumpriram o que foi falado e a palavra vale mais que a merda de uma assinatura em uma merda de um contrato ... o público, variável e “cansado”, uma mistura de molecada dispersa , alienada e controlada por uma rede de informação “underground” que dita as regras , os estilos e o boom da vez !!! 
A internet veio dar liberdade a uma arte presa e limitada a alguns mecanismos que era um micro mainstrem , padrões usados que massificaram e deixaram homogênea um underground extremamente heterogêneo, a internet as redes sociais, nos aproximaram e nos deixaram mais pertos e ai que a porca torceu o rabo, pois quando as pessoas se mostram mais , elas são mais elas mesmas e isso desmascarou uma quantidade enorme de pessoas que antes eu admirava, acompanhava e até me influenciaram , pessoas que se mostraram não ser meus ídolos , mas meus inimigos !!! Pois a liberdade virtual me permitiu saber que tem fascistas, racistas , homofôbicos, xenofôbicos no hard core/punk , no metal e em todo underground, pessoas que nunca imaginei se mostraram completos fascistóides de merda , racistas desgraçados , que antes se escondiam atrás do logo das suas bandas, que antes se escondiam no silêncio , mas quando foi lhes dado voz , fudeu ... saíram do armário e hoje meu amigo, essa gente que é aliado mesmo, quero distância , nem quero ouvir mais cara ... gente agredindo o Test em praça pública em nome de uma “Jihad” há muito superada (porra mano , os caras querem desunir o que levamos décadas pra unir , quem viveu os anos 80 sabe do que falo) , caras de bandas de 30 anos apoiando completamente políticos com atitudes racistas , machistas , preconceituosas , músicos postando página da Rota e clamando por eles e pelos militares , bandas que adorava , se mostrando completos acéfalos que não estão lado a lado comigo, mas no front contrário...
Respondendo a sua pergunta ... evolução ouve, mas evolução não tem anda a ver com progresso. Temos dois underground, o de papel de fantasias , aonde eles sonham que são Europeus, que a cena ta maravilhosa e todos ganhando com isso , e a cena de verdade , que continua tudo na mesma merda , shows em buracos , aparelhagem meia boca , pouca gente em shows de bandas nacionais de fora das panelas dos “catálogos” e dos “donos do underground” , bandas colocando grana do bolso , torcendo pra colar uma galera pra poder baixar um pouco o prejuízo ... se você não for parte da “elite” underground , vai estar no lado B do underground !!! As revistas , as rádios e TVs , são deles , e para eles ... não concorda com a falácia que inventaram pra equiparar o underground nacional com o europeu ... caralho mano , fala sério cara !!! as bandas continuam se fudendo pra vender 1.000 cds , pra colocar 100 nego em um show ... sonhar por uma resenha de merda naquela porra de revistinhas ditatoriais de padrões ... sempre os mesmos sonhos , desejos para a molecada que ta chegando !!! Meu não caiam nessa , saia do esquema , se liberte , não precisamos deles , não mais , a musica é arte e arte não deve ser comprada e nem vendida , mas admirada. Essa cena que parece um mercado com “embalagens” todas iguais , padrão , tudo igual , a metodologia pra ser aceito ... não mano , prefiro ficar aqui no lado B do underground , aqui sou livre , até pra mandar essas bandas de prostitutas , revistas de sangue sugas e gravadoras oportunistas todas a merda !!!!!! Não precisamos de vocês, precisamos dos underground de verdade que fazem à cena girar e não giram com a cena.

Como estão as composições para o novo do disco do Oligarquia? 
Panda Reis – Cara ... a gente pensa demais mano rsrs , ai nos perdemos em várias idéias que temos e acaba que as coisas não andam como deveriam, isso se comparado com a quantidades de letras , riffs , idéias que conversamos, começamos e nunca terminamos ... já era pra gente ter uma discografia de uns 10 discos , mas como disse um amigo , nós somos o Racionais do death metal, não pela destaque, vendagem ou moral , mas pela demora em lançar discos rsrsrsrs. No momento estamos em estúdio compondo material para um split que sai agora em 2015, além de estarmos gravando dois covers para dois tributos distintos. Hoje mesmo mandei uma mensagem pro celular dos caras, detalhando mais uma das minhas idéias para o cd novo, mas sinceramente ... nem sei se dessa vez sai da minha mente atormentada e vira realidade. Estamos tentando relançar os nossos discos anteriores, até aqui certo mesmo só o Distilling Hatred que será relançado m 2015, via Poluição Sonora Records e Black Legion Prod. , vai sair no Chile também, mas queremos ver se os caras das nossas gravadoras antigas, deixem de serem mercenários e relancem os anteriores, o foda é que teríamos que pagar pelos direitos do nosso próprio cd , para relançar , e apesar de até saber que isso é normal ... confesso que ta me deixando meio incomodado com a situação ... vamos ver o que rola em 2015, até pensei em regravar o primeiro disco inteiro rsrsrs , mas deixa rolar ... e na boa , minha mente ta olhando pra um novo disco ... se a gente conseguir se trombar pra compor , seria ótimo.

Panda obrigado pelo seu tempo, deixa aqui uma mensagem pros leitores!
Panda Reis – O underground é maior que todos nós juntos, nós precisamos fazer um serviço leal a ele, e não a prostituição que o estamos transformando !!! A cena é sim uma representação da sociedade, então reclamamos dos preconceitos , da falta de espaço e toda a merda que a cena mainstream alastra , mas querem reproduzir algo muito parecido aqui no underground !!!! Amigos , não sejamos iguais ao pop , nos vendendo , quase nos prostituindo , trabalhando em prol a um capitalismo do mesmo jeito que existe em qualquer cena , nos afastando do caráter libertário que o underground nasceu tendo , de elaborar arte e repassar , difundir entre os pares. Música é arte e não mercadoria. Não falo para perderem grana , mas apenas acabar com a mais valia que existe dentro do underground , das trocas de favores e compra de espaços !!! Que as revistinhas coloridinhas (sou mais velho que as duas) voltem a suas origem de fanzines e sejam menos putas dos “donos do underground” !!!!
Manda essas bandas de fascistas , racistas , machistas , homofôbicos e xenofôbicos a merda, não precisamos deles entre nós , sei que algumas tem histórias foda e musica mais foda ainda , mas não da pra chamar de irmão uma banda , um membro que defende políticos que querem homossexuais mortos , que falam abertamente que não querem seus filhos envolvidos com negros , que acham que na favela só te ladrão ... na boa , esses ai não preciso por perto não , são meus inimigos e não mais irmãos !!! Fiquem ligados ... underground é contestação e não reproduzam as merdas da sociedade doente que temos.

Contatos:
Panda Reis, e-mail: pandadrums@hotmail.com 


  • Comentar
  • Comentar via Facebook

0 comentários:

Postar um comentário

Item Reviewed: Entrevista: OLIGARQUIA 9 out of 10 based on 10 ratings. 9 user reviews.
Scroll to Top