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19 de out. de 2022

THE CROSS: Resenha do álbum "Act II: Walls of Forgotten" (Pitch Black Records – 2022)


Por: Jaime “Kbrunco” Amorim

Se no seu primeiro álbum a THE CROSS já demonstrara estar acima da média dentro do cenário brasileiro, agora transcendeu, passando para um patamar acima. Ouso dizer que é a banda mais relevante dentro do Doom Metal brasileiro. Não é à toa que já está colhendo mundo à fora reviews bastante positivos. Pude acompanhar o processo de gestação de “Act II: Walls of Forgotten” e vi o quanto Eduardo Slayer se empenhou no processo de composição, junto com demais membros, nas suas aulas de canto, na procura por contatos europeus – tendo encontrado Albert Bell (FORSAKEN) como um link importante para ter convidados de peso, e também na busca por uma gravadora de fato séria e profissional. 

Vale ressaltar que “Act II...” foi gravado durante o período da maldita pandemia de covid, o que, por si só, traz uma carga a mais de reflexão e desilusão face ao mundo que vivemos. O track list deste magnifico álbum é composto de seis odes de um pestilento e lúgubre Doom Metal, Há de se ressaltar que as quatro primeiras faixas não possuem intervalo entre si. É acabar uma e começar a outra, resultando numa dinâmica fluida e que me deixou de queixo caído com tamanha massa sonora. Essa artimanha fez com que o álbum trouxesse climas distintos entre as quatro iniciais e as duas músicas que completam o track list. O álbum começa com Behind the Stone Gate, releitura de Behind the Gates, originalmente gravada na demo “Peregrination” (1994), refeita do zero e com outra roupagem. O início da música traz as guitarras de Daniel Fauaze e Paulo Monteiro na linha de frente, com uma timbragem mais aguda. Após um minuto, o baterista Louis mostra sua marca, pois o que faz na bateria é impressionante. Eduardo mostra que suas aulas de canto não foram à toa, e usou vocais mais limpos após quatro minutos. Técnica que repete de forma mais comedida após oito minutos, contrastando com as vocalizações a que habitualmente estamos acostumados. No baixo escutamos uma atuação irrepreensível do já citado Albert Bell. Sutil e sem maiores alardes – como fará por todas demais músicas. Na sequência temos Walls of Forgotten, que traz uma introdução vocal de nada mais nada menos que Aaron Staintrope da MY DYING BRIDE, indicando ao ouvinte o caminho para o muro do esquecimento/lamentações. Logo em seguida Eduardo vem com a carga desesperada do seu vocal, que é uma das características principais da THE CROSS. A banda sabe usar com maestria os dois bumbos, marcando as quebradas de tempo durante todo seu desenvolvimento. Quando se aproxima dos sete minutos e alguns segundos as guitarras ficam mais agudas, para logo em seguida Louis sentar o braço e Aaron Staintrope volta a atuar, mas desta vez soltando sua voz de fato, abrilhantando ainda mais esta ode. 

Sem concessões para um possível intervalo, vem a melhor música do álbum, Beyond the Eyes of Seth. Parafraseando o vocalista, “brothers and sisters”, que música fodida é esta?! Um toque oriental é sentido, nos transportando ao Oriente Médio. Mais precisamente ao Egito de outrora. Uma tempestade de Doom Metal com acento épico, uma narrativa da trajetória do deus egípcio das tempestades: nada mais nada menos que Seth. Sua ascensão, sua queda, sua desilusão face a derrota frente a Horus. Aos 5 min e alguns segundos temos “Seth” dialogando com sua consciência. Se prestarmos atenção é possível ouvir sussurros. Aproximando dos 8 min, Horus – personificado por Archaf Loudy, da AETERNAM –, vem narrar sua parte da história, utilizando um vocal bem limpo há um belo contraste com a atuação de Seth/Eduardo. Após os 12 min da composição anterior, entra Sonnestein Castle, uma imersão profunda no famoso castelo alemão homônimo. Lá muitos seres humanos pereceram sob o jugo nazista e seus experimentos “científicos”. A letra narra o suplício dos que tombaram e daqueles que conseguiram escapar da morte. Estes, todavia, carregando marcas profundas desses horrores pelo resto de suas miseráveis vidas. Após ouvirmos sussuros novamente no início da música, a faixa introduz o clima acima descrito. Por volta dos 7 min e alguns segundos a THE CROSS muda o clima da música para uma sonoridade mais “calma”. É bom relembrar que a arte da capa e contracapa, além do miolo e fundo, onde se encaixa o CD, trazem justamente uma interpretação que o já conhecido Alcides Burn faz do castelo dos horrores alemão.

Chegamos ao segundo momento do álbum, aquele no qual as duas músicas restantes do track list estão “livres” das demais. Todavia o mergulho no interior da existência humana e suas idiossincrasias é mantido. Tanto que a lírica aqui encontrada gira em torno do carma que uma pessoa carregará com seu suicídio. Portanto, se já há peso lírico nas demais faixas do álbum, logicamente a banda não deixaria de concatenar a sonoridade com a proposta temática. A densidade sonora é mantida: cuidado para que sua mente não seja esmagada. Temos mais uma vez a participação de um ilustre convidado, Leo Stivala, que acrescenta uma carga emotiva bem forte, utilizando tons mais altos, num belo contraste com a característica voz do Eduardo. 

E para encerrar este estupendo álbum foi escolhida, nada mais nada menos, que a música preferida do vocalista, Ouroboros. Já citei a minha faixa favorita (Beyond the Eyes of Seth), contudo devo dizer que, para mim, esta composição fica em segundo lugar. Das seis faixas do álbum, essa é a que possui o clima mais intimista e reflexivo; afinal, como sabemos, nossas vidas são permeadas por fases, ciclos, dos quais temos que ter a sabedoria de aproveitar e evoluir como seres humanos. O trabalho das guitarras fica a frente com seu tom melancólico e uma interpretação emocionada de Eduardo, que evoluiu muito como vocalista, sendo este disco a prova dessa evolução. 

Com todo respeito a cena brasileira, porém com este álbum a THE CROSS crava seu nome como a mais relevante em se tratando de Doom Metal, seja pelo pioneirismo incontestável ou pelo mais importante: o conjunto da obra. O álbum possui uma produção impecável, composições e lírica maduras, uma banda coesa e uma sonoridade que mostra ousadia ao se reinventar e ampliar seus horizontes dentro do estilo, sem deixar as raízes mais profundas esquecidas. 

Ainda não conhece a banda? Não perca seu tempo, confie neste escriba e adquira a versão de “Act II....”, que será lançada aqui no Brasil com duas bônus tracks. Confira no canal do Youtube da banda os clipes de Behind the Stone Gate, Sonnestein Castle e o teaser da participação de Aron.

* N. do E.: Fechar um fanzine é uma correria só. A tarefa envolve editar e revisar os textos dos colaboradores, fazer a diagramação, entrar em contato com a gráfica e os apoiadores etc. Esse acumulo de atividades pode acabar produzindo, involuntariamente, alguns deslizes. Na última edição, o texto acima, escrito por Jaime “Kbrunco” Amorim, que é colaborador desde a primeira edição, saiu truncado, mais precisamente foi mutilado. Estamos publicando a versão integral. O SEPULCHRAL VOICE ZINE pede desculpas ao Jaime K. Amorim e à banda THE CROSS, de quem somos fãs. 

Assista o videoclipe de "Behind the Stone Gate"



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