O festival mineiro, Roça n’ Roll, anunciou o cancelamento de sua 20ª edição que estava prevista para acontecer neste ano. Em nota – que pode ser conferida logo abaixo – o produtor do evento, Bruno Maia, esclarece os motivos do cancelamento. Confira:
“O Roça’n’Roll nasceu espontaneamente, nasceu, em verdade, da escassez; da necessidade de ter onde tocar, onde minha banda tocar. Não imaginava que um dia ele se tornaria o que chegou a ser. Afinal, como sonharia que numa cidade como Varginha aconteceria um dos maiores festivais de Metal do Brasil? Três palcos, uma ótima estrutura, inúmeras outras atrações, bandas de todos os cantos interessadas em tocar e um público que se tornou gigante e fiel. Além disso, oficinas e ações diversas na zona rural e projetos sociais aqui em Varginha, workshops com doações que contabilizaram mais de uma tonelada de alimentos destinados à entidades. Foram estes elementos que compuseram a estrutura do Roça nos, pelo menos, últimos anos.
O que muita gente não sabe é que por trás do Roça n’ Roll há mais ideologia que mercado. É, pode parecer ingenuidade ou demagogia, mas é verdade. Nosso intuito sempre foi fomentar a cena Rock/Metal autoral, proporcionando uma boa divulgação às bandas, uma estrutura digna para se apresentar com equipamentos legais, segurança e alto astral. Sabendo do efeito multiplicador que alcançamos ao longo dos anos, nosso orgulho era poder continuar a ser um festival que contemplava bandas novas talentosas ou em ascensão que não tinham espaço na mídia mainstream e mesmo na mídia Metal. Se fosse pra ser um evento de mercado traríamos apenas bandas maiores e faríamos uma super balada de Metal Open Air. Mas, realmente víamos nossa missão mais como cultural que mercadológica, tanto que sempre abraçamos todos os estilos dentro rock e metal, do Blues Rock, passando pelo Punk Rock ao Splatter Gore ou Black Metal.Nunca cedemos às pressões do ‘mercado’, NUNCA vendemos espaço nos palcos e nem aceitamos ofertas de empresários, produtores e mesmo bandas pra colocar artista no Roça em troco de ‘la plata’. É óbvio que sempre tivemos o cuidado em colocar a cada edição algumas bandas de renome, nacionais e internacionais, pra tornar o festival mais interessante ao público e comprovar assim a diversidade do mesmo.
As bandas que tocaram sempre quiseram voltar, pois viam que a coisa é bem feita, feita com o coração e com profissionalismo por quem gosta do estilo, sabe fazer, ou pelo menos aprendeu a fazer a coisa, e viam que o clima do Roça era único. Quando houve cancelamento de bandas internacionais no evento, saibam que, nunca foi por falha nossa e sim da produtora que estava ‘trazendo’ a atração- foi assim com Death Angel, Vader e Moonspell.
Ao público sempre tentamos melhorar a estrutura, as condições, a alimentação, o acesso, a comodidade, as atrações não musicais que vinham e mesmo os preços( do ingresso ao que se consumia lá dentro). É claro que erramos, que fizemos parcerias erradas, que ‘deu pau’ em certas ocasiões e tudo mais, mas fomos aprendendo com as mancadas e tentando melhorar. Sabemos que pra muitas pessoas o Roça é muito mais que um festival. Foi lá que muitas amizades se fizeram, namoros, casamentos, muita banda nasceu dentro do Roça ou por efeito do Roça, e é lá que muita galera se encontra anualmente, pois o festival faz parte do calendário de muitas pessoas.
Já faz algumas edições que vimos realizando o festival sem patrocínio e sem incentivo. Tem sido feito “na unha” os últimos anos e, realizar um projeto desse porte no interior, na zona rural, com aquela estrutura e depender de muitos fornecedores de capitais e de longe não é fácil não. Ainda mais com o valor de ingresso que cobramos, que é muito abaixo do praticado em outras praças.
Hoje em dia é mais difícil ainda, pois a para o bem ou para o mal, a tecnologia mudou nossa forma de conhecer artistas, ouvir, consumir música e mesmo de viver, e por conta dessa transformação comportamental o cenário rock/metal sofre um forte abalo. Eu mais que ninguém sei que o público fiel do Roça, os true rocers, são uns lazarentos de fodas e que nunca deixaram de vir, de montar excursões, de divulgar o festival, nunca deixaram de defende-lo quando os detratores de sempre piavam nas redes sociais, etc, mas este ano, justamente no ano que completamos 20 anos a coisa tá complicada.
A gente resistiu até onde deu, foi muito difícil pensar essa hipótese e, pior ainda, ter de anunciar isso , mas, infelizmente, o nosso 20º Roça’n’Roll será adiado sem data determinada ainda.
Estou muito abalado com isso, pois tenho mais anos de vida fazendo o Roça que sem o Roça, e tê-lo realizado por quase 20 anos ininterruptos me dá uma satisfação e orgulho difíceis de descrever, pois além de conseguir manter o sonho vivo por tantos anos, superamos muitos obstáculos nesta história, obstáculos naturais, físicos, financeiros, ‘alta’ precariedade, sabotagem e até vilania.
Ainda veremos o que faremos, se tentaremos um crowdfunding, se tentaremos buscar novos parceiros incentivadores, mas prometo que vamos tentar realizar pelo menos a 20ª expedição, por questão de honra e fechar com chave de ouro essa história.
Agradeço a todos que ajudaram o Roça e fizeram o que quer que tenha sido para somar ao festival, seja na produção do evento, nas oficinas com as crianças da zona rural, no conservatório etc…É muita gente pra agradecer que não dá, mas não tem como não citar nominalmente os meus parceiros de sempre que lutam bravamente pelo trem: Rodrigo Barbieri, Rosildo Beltrão, Debora e Leonardo Beltrão, Ivanei Salgado, Rogério Vilela Silva, Julio Andrade, Thales ‘Von Sylva’ Querubino, Michel Pedro, Alvinho, Lincoln César, minha família Metal Pizza (Tassio Maia, Fábio Maia e Mirian Leite) e os saudosos Alódio Tovar e Maurinho Tadeu Teixeira.
Não tenho palavras para agradecer a todos que apoiaram este sonho crescer e estar conosco por tanto tempo, todas as bandas que enviaram material, as que tocaram, os jornalistas que divulgaram notas sobre o Roça, o pessoal que monta excursões oficiais e não oficiais ao Roça, o pessoal da fazenda que jambra lá pra poder receber a estrutura do festival, as equipes de sonorização que são as mesmas há muitos anos, valeu demais.
Agradeço a toda e qualquer emoção que vocês sentiram desde a espera do anúncio de uma edição do Roça até sua volta pra casa, a cada post na internet que vocês divulgaram algo do Roça, a todos os minutos que esperaram na fila pra entrar, a cada quilometro percorrido para até aqui chegar, a cada batida de cabeça, cada camiseta ou caneca, DVD e cd do Roça que você comprou estando assim ajudando o sonho continuar. Valeu demais, to emocionado aqui. É noise!!! Espero que em breve nos vejamos de novo, Lá no Roça’n’Roll.
Bruno Maia.
P.S: O Show do Angra ainda ocorrerá em Varginha, na data de 02 de junho de 2018″.
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